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sábado, 20 de maio de 2017

AMERIGO VESPUCCI - Emblemático navio escola ao serviço de Itália

Sábado, dia 6 de Maio de 2017, a manhã começara bem cinzenta na baía do Funchal a ameaçar chuva, que não tardou em aparecer pouco depois. Ao longe aproximando-se de sul, avistava-se um grande veleiro de três mastros que a pouco e pouco ia dando nas vistas, escoltado pelos dois rebocadores dos Portos da Madeira.
Era nada mais nada menos que o AMERIGO VESPUCCI, emblemático navio escola da Marinha Italiana e a mais antiga unidade a navegar ao serviço da mesma, cujas linhas e decoração ímpares, remetem-nos para o estilo das antigas fragatas do Séc. XIX.
Já não visitava o porto da capital madeirense há 28 anos, tendo a sua última escala ocorrido em 1989, e este regresso aconteceu no decurso de uma campanha de instrução comemorativa dos 150 anos da fundação do Canadá, iniciada no passado dia 19 de Abril no seu porto base de La Spezia. Antes do Funchal escalou ainda o porto português de Sines, pelo que agora seguem-se uma série de visitas no outro lado do oceano; Bermudas (Hamilton), Canadá (Halifax, Montreal, Quebeque), E.U.A (Boston, Nova Iorque), regressando depois ao velho continente via Ponta Delgada, Açores antes de escalar alguns portos no Mediterrâneo (Málaga, Barcelona, Portoferraio) e terminar a viagem a 23 de Setembro em Livorno.
Itinerário da presente campanha de instrução do AMERIGO VESPUCCI. Imagem: Marinha Italiana.
A campanha descrita acima, uma de inúmeras que o AMERIGO VESPUCCI já realizou ao longo da sua vasta carreira, é bem demonstrativa da grande importância que este navio escola representa para as novas gerações de futuros oficiais da Marinha de Guerra. Está maioritariamente ao serviço da Academia Naval da Marinha, embora sejam também admitidos alunos da escola naval e militar Francesco Morosini, e membros de várias associações náuticas, a exemplo da Liga Naval Italiana e da Sail Training Association.
Para além disso, o AMERIGO VESPUCCI desempenha outras funções de relevo, pois é igualmente visto como uma embaixada flutuante, em virtude dos diversos eventos de cariz oficial que realiza Mundo fora em prol da bandeira que ostenta.
Outro dos seus nobres horizontes, é sensibilizar e promover por entre as camadas mais jovens, o respeito e preservação do meio ambiente, estando dessa forma em constante parceria com associações como a WWF, Marevivo Association e Unicef.
Construído pelos estaleiros reais de Castellammare di Stabia em Neapel, segundo o projecto do Engº Naval Francesco Rotundi, a sua quilha foi assente a 12 de Maio de 1930, tendo sido lançado à água e comissionado no ano seguinte, a 22 de Fevereiro e 6 de Junho respectivamente. Não tardou para que então em Julho de 1931, iniciasse a sua primeira viagem de instrução com cadetes no Norte da Europa.
Para todos os efeitos, na altura o AMERIGO VESPUCCI juntamente com o seu gémeo CRISTOFORO COLOMBO de 1928, representavam uma importante modernização no treino de cadetes, pois era de uma consideração vital que essa instrução fosse feita a bordo de um veleiro, visto que neles adquirem os conhecimentos da navegação tradicional, o que por si só é de uma grande relevância, mesmo ao governar navios modernos.
Pintura deixada pela guarnição no muro do porto do Funchal.
Sobre o CRISTOFORO COLOMBO, o mesmo infelizmente não teve uma vida tão longa como o seu gémeo, após a 2ª Guerra Mundial foi cedido pelos italianos, ficando apresado de guerra dos russos, que o renomearam DUNAY. Assim manteve-se até 1971, tendo sido desmantelado no ano seguinte em Odessa.
Relativamente ao mais afortunado AMERIGO VESPUCCI, apresenta as seguintes características: 4,100 mil toneladas de deslocamento, 70 metros de comprimento (101 m. com gurupés), 15 metros de largura (21 m. com embarcações auxiliares) e 7,3 metros de calado. Sendo um navio à vela com motor auxiliar dispõe de três mastros: (traquete - 50 m), (mastaréu - 54 m), (mezena - 43 m) e (gurupés - 18 m), este último muitas vezes considerado o "quatro mastro" dos veleiros. No total pode hastear até 24 velas que lhe conferem uma área vélica de 2,800 metros quadrados.
Curiosamente o navio consegue atingir velocidades superiores à vela (recorde: 14,6 nós) do que as duas máquinas FIAT Marelli Diesel, capazes de produzir 3,000 c.p. possibilitando uma velocidade média de 12 nós.
No que toca à guarnição, o número regular ronda os 278 elementos, sendo que nas campanhas de instrução da Academia Naval esse número pode subir para os 480, englobando cadetes e orientadores.
Tal como é possível constatar na maioria dos grandes veleiros, símbolos de uma nação, o seu interior está imaculadamente bem preservado, pelo que as decorações e detalhes nos tombadilhos exteriores fazem as delícias de quem tem a excelente oportunidade de visitar estas relíquias flutuantes.
Destaque para as ornamentações da proa e da popa, feitas em madeira e revestidas por folha de ouro puro, incluindo a figura de proa dedicada ao seu patrono, o navegador e cartógrafo italiano Amerigo Vespucci (1454-1522).
Após uma estadia de 4 dias no Funchal, o AMERIGO VESPUCCI largou na manhã do dia 10 de Maio, novamente debaixo de aguaceiros e com 20 dias de mar pela frente, até à sua chegada a Hamilton no próximo dia 30.
À noite os mastros ficam iluminados com as cores da bandeira italiana, uma característica bastante singular.
Fotografias da autoria de João Abreu, salvo referência contrária. 
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